Seleção feminina venceu a Argentina e ficou com o ouro no Pan-americano
Reuters/Sergio Moraes - 30.7Saltos, arremessos potentes, outros com efeito, muita movimentação tática, dinamismo extremo. O jogo de handebol é plasticamente atraente e emocionante. Infelizmente, no entanto, é uma modalidade pouco popular no continente.
Este ano, novamente os fãs de handebol foram punidos com o histórico descaso da Panam Sports (novo nome da antiga e antiquada Odepa) pela modalidade. A empresa que gera as imagens simplesmente não transmitiu nenhuma partida da fase inicial do torneio feminino. Para o telespectador, o handebol feminino do Pan de Lima começou na semifinal.
Não é novidade. No Pan de Havana, em 91, sequer foi realizado o torneio feminino, e só houve transmissão pela TV da final masculina porque Fidel Castro foi ao ginásio para acompanhar a disputa. O handebol inexiste também na TV norte-americana. Durante os Jogos Olímpicos de Pequim, a NBC transmitiu 20 partidas, e a resposta foi surpreendente. A audiência da modalidade, praticamente desconhecida entre os ianques, foi comparável à do voleibol, um esporte que também não é popular nos Estados Unidos, mas é bem mais conhecido do que o handebol.
Como a modalidade não aparece na TV cubana, poucos jovens se interessam por ela. O esporte não é prioridade do Inder (Instituto Nacional de Esportes, Educação e Recreação) de Cuba. Não há seleção sub-16, sub-18 e sub-21. Os atletas vão direto da categoria cadete para a adulta, diferentemente do vôlei e do beisebol, que têm todas as categorias de base. É uma pena, porque o perfil dos cubanos é ideal para a modalidade: são fortes, saltam muito e são velozes, basta ver o que fazem no atletismo...
Para complicar, as províncias cubanas têm dificuldades para receber bolas para praticar a modalidade. Ao menos, é o que li no site Cuba Debate. Cada província deveria receber 20 bolas para iniciação de atletas. As quadras também são precárias. Segundo um atleta do juvenil, quadras com buracos desestimulam os jogadores, que tendem a se dedicar menos, e eles também contêm os movimentos, com receio de sofrer lesões.
Sem bolas, as crianças se iniciam na modalidade executando movimentos gestuais. Mesmo assim, as bravas cubanas conseguiram se classificar para o Mundial do Japão, que será disputado no final deste ano.
Nesse cenário pouco competitivo da modalidade, é de se admirar o fortalecimento da Argentina, agora comandada por Eduardo Gallardo. Ele foi o técnico da seleção masculina do país, a mesma que derrotou o Brasil na final do Pan de Guadalajara, tirando a seleção nacional dos Jogos Olímpicos de Londres.
Há muitos anos a Argentina apanha do Brasil no feminino. Ao assumir o comando, Gallardo fez um mapeamento e constatou déficits de técnica individual, tática, parte física e parte psicológica. Ele e sua comissão técnica atuaram em todas as frentes. Ele também penetrou na mente de suas comandadas e as levou a acreditar que podem derrotar qualquer adversário. As argentinas, que não conseguiam virar nenhuma partida depois que o oponente abria boa vantagem, agora é capaz disso.
Por tanto acreditarem, e por terem feito um excelente primeiro tempo, as argentinas choraram tanto a derrota para o Brasil na final, como se tivessem acordado de um sonho bom.
Quanto ao Brasil, resta-nos apreciar os últimos anos de Duda Amorim, Deonise, Elaine, Mariana Costa e Ana Paula, as últimas seis remanescentes da equipe que foi campeã mundial em 2013. Quantas delas continuarão na seleção depois da Olimpíada de Tóquio?
Infelizmente, vimos poucos jogos dessa brilhante geração, que já nos deixa saudosos. Que aproveitemos para curtir os amistosos preparatórios e, sobretudo, o torneio olímpico. A garra, o espírito de jogo coletivo, a técnica e dedicação dessas mulheres são exemplares.