Atos de violência contra a mulher acontecem diariamente; seja no ambiente doméstico, no trabalho, na sala de aula da faculdade ou da escola. É um grande problema de saúde pública e uma violação dos direitos humanos das mulheres.
Estimativas publicadas pela OMS indicam que globalmente cerca de 1 em cada 3, ou seja, 30% das mulheres em todo o mundo foram submetidas a violência física e/ou sexual por parceiro íntimo ou violência sexual por não-parceiro em sua vida.
Números divulgados em março de 2021, pelo Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, mostram que, infelizmente, o Brasil registrou um aumento da violência doméstica contra as mulheres. Através do Ligue 180 e Disque 100, foram registradas 105.821 em 2020 no país.
De acordo com a Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher, a violência define-se como:
“Qualquer ato ou conduta baseada no gênero que cause morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto na esfera pública quanto na privada.”
Física, Psicológica, Sexual, Patrimonial e Moral, não importa qual destas formas de violência a mulher foi vítima; todas se enquadram na Cartilha Maria da Penha, do Ministério Público Federal.
Mas por que, em pleno século XXI, muitas mulheres ainda sofrem caladas? Seja por vergonha, medo, dependência financeira, emocional, baixa autoestima, essas mulheres sofrem sozinhas e em silêncio.
A pandemia de Covid-19 serviu para potencializar esta situação: os isolamentos e toques de recolher restringiram o acesso das vítimas às medidas de socorro e obrigaram a convivência de vítima e agressor. Este fenômeno aconteceu no mundo inteiro. De acordo com a ONG Action Aid, ocorreu um crescimento enorme da violência doméstica em regiões da Europa, África, Ásia, Oriente Médio e América Latina. No Brasil, a taxa de feminicídio subiu 22%, sendo que no estado do Acre, o crescimento foi 300%. São dados alarmantes e que precisam, com urgência, terem seus índices reduzidos.
O programa Cidade Alerta retrata inúmeros casos de feminicídio e agressões física e moral contra mulheres. E não seria exagero nenhum dizer que, praticamente todos os dias, assistimos reportagens com este conteúdo.
Claudia, Vera e Gabriela são três brasileiras que nunca se viram pessoalmente. Neste Especial Cidade Alerta: Violência contra a mulher, as três mulheres compartilham os momentos difíceis que passaram, o que fizeram para dar a volta por cima e ainda deixam um recado outras mulheres.
A jovem Janaína, irmã de Vera Lúcia, não morava no Acre e nem estava em isolamento junto com o agressor. Ela foi agredida e morta pelo marido antes da pandemia de Covid-19, reforçando que atos de violência doméstica acontecem há muito tempo no país.
Janaína morava com o então marido e a filha do casal, e era vítima constante de agressões do companheiro, como relata sua irmã, Vera Lúcia: “Um dia ela chegou com o olho roxo. Só de olhar você via que ele tinha dado um soco nela. Pessoas próximas viram que foi ele.”
As agressões foram aumentando e, mesmo com insistentes pedidos de Vera e da família, para que Janaína retornasse para a casa da mãe, ela permaneceu ao lado do agressor até o dia fatídico: “Minha irmã foi encontrada morta em cima do sofá”, relembra Vera Lúcia.
O responsável pela morte de Janaína nunca foi preso, nem ao menos condenado pelo ato.
Claudia estava decidida a não se envolver com ninguém, até conhecer seu futuro agressor. Ele conquistou primeiro a família de Claudia, para então conquistá-la. O começo do relacionamento foi ótimo, mas depois vieram as demonstrações de violência: “Ele apresentava ciúmes possessivo. Apagou contatos do meu celular, bloqueou outros”, relembra Claudia.
Estes atos foram apenas o início daquilo que viria a ser um pesadelo na vida dela: “Espancamento 48 horas. Porque ele me espancava dia e noite, noite e dia”.
Claudia apanhou do companheiro durante todo o fim de semana. Ela conseguiu escapar do local onde era mantida em cárcere por ele após gritar por socorro e a vizinha ouvir.
Ele está no preso no momento, mas Claudia não consegue viver tranquilamente: “A qualquer momento ele pode ser solto e não sei o que pode acontecer”, desabafa.
A modelo Gabriela Casellato Brito, de 24 anos, foi agredida pelo ex-namorado um dia após o fim do relacionamento. Ela foi espancada com socos e o uso de um ventilador enquanto dormia: “Não consigo lembrar de nada. Ele me deu socos na cabeça e, quando levantei da cama, ele pegou o ventilador que estava ligado e deu com tudo na minha cara”, relata.
Com a mandíbula e o nariz quebrados, além de hematomas por todo o rosto, a jovem registrou um Boletim de Ocorrência. “Tenho medida protetiva contra ele, que impede que ele se aproxime de mim a uma distância mínima de 100 metros, mas não me sinto segura somente com a protetiva. A qualquer momento sinto que ele poderá vir atrás de mim e terminar o que começou.”
Estes relatos chocam. Mas são apenas três relatos entre milhares que acontecem diariamente no Brasil e também no mundo.
Para denunciar, o governo federal oferece os seguintes canais de denúncia:
- Ligue 180
- Disque 100
- Aplicativo “Direitos Humanos Brasil”
- Mensagem via WhatsApp (61) 99656-5008
- Site da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos
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