Uma operação da polícia na
Cracolândia, na última semana, trouxe à tona a história de Rubens Sabino. O
ator, que ficou famoso por ser intérprete de Neguinho, no filme Cidade de Deus, viu a história das telas
de cinema pararem em sua vida real. Em entrevista exclusiva ao Gugu, ele fala
que usuários não se arrependem dos crimes, por que abandonou a carreira de ator
e por que foi parar nas ruas
Rubens Sabino Silva foi encontrado na Cracolândia, em São
Paulo, durante uma operação policial. A notícia tomou as manchetes dos
principais portais de notícia do Brasil
O ator conta que não soube conviver com a mudança do anonimato
às telas do cinema.
— Eu nasci numa periferia do Rio de Janeiro. Então, como vim
de periferia, não tinha contato com o glamour de televisão, dinheiro e festas. Eu,
como todo cara que não estava acostumado com essa vida, não tive estrutura para
manter e fui parar nas drogas. Infelizmente, alguns anos atrás, também tive a
infelicidade de parar no crack também
A rotina de vida de Rubens em São Paulo era toda voltada ao
consumo de crack.
— Aqui [em São Paulo], eu ficava numa praça que tinha um
fluxo de mais ou menos 500 pessoas. Eu fumava crack a noite inteira e depois ia
dormir na porta de um estabelecimento. Por volta das 17h, eu descia para pedir
esmola na porta do metrô e ia para Vila Madalena pedir mais dinheiro. Assim que
juntava uns R$ 150, eu pegava o metrô e comprava mais pedra. Era quatro dias
direto, só parava quando passava mal
As recordações das premiações no cinema ainda deixam Sabino emocionado.
— A gente concorreu a quatro Oscar e viajamos o mundo
inteiro. Ganhamos o Festival de Cannes com o curta Palace 2, do Fernando
Meirelles e Kátia Abreu. Infelizmente, eu não tenho mais contato com essa
galera, eles sumiram. O Cidade de Deus foi a coisa mais importante da minha
vida
Depois do sucesso do filme, as coisas começaram a mudar para
o lato negativo na vida do ator.
— Aqui era o local que dormia. Eu esticava um papelão no
chão e dormia. Fiquei e, particularmente, achei que iria morrer, “tô” falando
sério. Às vezes, eu acordava e falava vou morrer
A fase em que esteve envolvido com o crack lhe fez viver um
trauma familiar.
— Eu fui em casa e não me deixaram entrar. Isso foi chato. A
minha irmã não falou comigo no dia da Páscoa. Sinto saudades deles sim, mas
bateram a porta na minha cara. Poxa, bem na Páscoa. Só o meu cunhado que veio
me dar água. Eu pediria desculpas, mas não vou lá de novo. Agora decidi que vou
seguir a minha vida
Rubens conta que para sair do mundo das drogas é preciso ter
força de vontade.
— A primeira coisa fundamental para sair é o indivíduo
parar. Não precisa falar pra você. É um assunto de você com você. Depois, eu
procurei algumas terapias. Fui no CAPs do Rio de Janeiro falar com uma assistente
social e psicóloga. Mas o fundamental é o acerto de contas consigo mesmo
O único pensamento de um usuário é conseguir a droga.
— O grande lance é que quando o cara fuma crack, não pensa nele.
É só crack. Então, como ele só pensa na pedra, a última pessoa que ele vai
pensar é no cara que ele lesou
