A grande crise humanitária vivida pelo povo indígena Yanomami ganhou destaque após denúncias de lideranças sobre o agravamento do estado de saúde dos indígenas que sofrem de desnutrição, malária e outras doenças atribuídas à degradação ambiental causada pelo avanço do garimpo ilegal na região.
Após desembarcar em Roraima ao lado do cinegrafista Roberto Bergamini e o auxiliar Jones Lima para acompanhar de perto a crise durante uma semana, o repórter Filipe Brandão, da Record TV, compartilhou suas impressões com o site oficial:
“Assim que a gente chegou, encontramos o pessoal do Exército e seguimos para essa cobertura, que sem dúvida alguma, foi a maior que eu já fiz nesses 17 anos de carreira”, conta.
Em Roraima, a equipe seguiu de helicóptero para a Reserva Indígena Yanomami, localizada na fronteira com a Venezuela, e se deparou com um cenário de grave emergência:
“Percorremos aldeias, umas mais afastadas, outras mais próximas do pelotão, e a gente viu um cenário desolador. As crianças e alguns bebês recém-nascidos desnutridos, sem assistência. Elas andam descalças, são picadas por bichos peçonhentos, pegam doenças, como malária, pneumonia, inalam fumaça das fogueiras”, relata sobre o cenário.
Apesar da assistência oferecida pelo Exército na região com a determinação de uma operação no local devido ao decreto de combate à crise humanitária, o problema é antigo. Conforme dados do Ministério da Saúde, 570 crianças de até cinco anos morreram de doenças evitáveis na região ocupada pelos indígenas entre 2019 e 2022, um aumento de 29% em relação ao período entre 2015 e 2018.
Momento de emoção
Durante a cobertura, em diversos momentos a emoção falou mais alto, e Filipe relata situações inusitadas que presenciou:
“As crianças, apesar de não falarem português, vinham carinhosamente até nós e pediam carinho, puxavam a gente pelo braço e queriam colo, nós dávamos. Você percebia a carência delas”, diz.
Outra situação marcante, foi a chegada do helicóptero até a aldeia mais afastada com muitas mulheres, principalmente com crianças, com cestas correndo em fila ansiosas para pegar de imediato a comida que chegava: “Elas estavam com esperança de que as cestas básicas iriam ajudar a comunidade. Aquela cena me marcou bastante”, expõe.
Durante um acompanhamento médico em uma aldeia próxima ao pelotão de fronteira do Exército, a equipe registrou o atendimento de uma criança com pneumonia. Filipe narra como foi a cena, que já faz parte da rotina dos médicos atuantes da região:
“Há dias que ele tossia muito e acabou inalando muita fumaça, porque eles moram em um local onde 200 índios dividem o espaço com redes improvisadas e acabam fazendo fogueiras. Outras crianças ficam doentes ali por diversas razões, não só por isso, mas foi uma cena que me chocou bastante. Essa criança foi medicada ali na hora pelo médico do Exército e a gente seguiu pela comunidade entregando itens de higiene pessoal que certamente vão ajudar muito a esses indígenas”, enfatiza.
De volta para casa, depois de se emocionar muitas vezes, o repórter finaliza: “Confesso que a minha ficha ainda não caiu. Um dia eu estava em São Paulo, em um cenário totalmente diferente. No outro, nessa terra indígena vendo um cenário desolador. Uma terra tão rica no meio da Floresta Amazônica, tomada por doenças como malária, pneumonia e também a desnutrição desse povo. Volto sem saber se esse problema vai ser resolvido".
Acredito que agora é necessária a união de todas as forças dos órgãos públicos para resolver%2C mas volto para casa com a certeza de que eu fiz a minha parte em mostrar [para a sociedade] um pouco desse cenário devastador que os índios Yanomami estão vivendo
Assista à matéria que foi ao ar:
O Domingo Espetacular vai ao ar todo o fim de semana, a partir das 19h45, na tela da Record TV.