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Literatura peruana se consagrou ao mostrar carências e riquezas do país

Desde antes da colonização, país vê sua identidade por meio dos livros e autores se consagraram, como Vargas Llosa, ganhador do Nobel em 2010

Pan Lima 2019|Eugenio Goussinsky, do R7

Ator interpreta o escritor José María Arguedas
Ator interpreta o escritor José María Arguedas Ator interpreta o escritor José María Arguedas

O Peru é um país de superlativos. Em seus caudalosos rios correm as veias abertas da América Latina, título de obra do uruguaio Eduardo Galeano.

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Nação com tantas paisagens, possui regiões de cordilheiras, de selva e de costa e uma fauna exuberante, que vai das iguanas às chinchilas, das vicuñas aos veados. Flora e fauna do país foram retratadas na cerimônia de abertura dos Jogos Pan-Americanos de 2019.

E, como a gastronomia é outro forte peruano, essa diversidade se tornou um prato cheio para que a literatura local fluísse. Tal qual a água que brota das cordilheiras.

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O Peru das águas turbulentas é um país com uma das literaturas mais criativas do mundo. Com tanta diversidade como sua natureza. Há um universo que une características andinas, nacionais e latino-americanas, em várias gerações.

A literatura no Peru existe desde antes da conquista do país, dentro da tradição dos índios quíchuas e aimarás. E passou, no período colonial, a ser um instrumento de identidade dos povos conquistados.

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Um texto que ilustra essa época é o do cronista indígena Guaman Poma de Ayala. Ele escreve uma extensa carta ao Felipe III de Espanha, em que conta como era a vida na região antes da chegada dos espanhóis e como a colonização trouxe algumas doenças e aumentou a mortalidade local.

No período colonial, a literatura peruana passou por uma fase que descrevia mais a conquista do território.

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Com a urbanização, a pobreza peruana, que atinge ainda o alto índice de 22% da população, diante de tantos recursos, se tornou instrumento para os escritores locais. Vieram as fases marcadas por estilos como o Romantismo, Realismo, Modernismo, com toques de Realismo Fantástico.

O espectro peruano, a partir do século 20, passou a ser composto por outros autores influentes, como Ricardo Palma, Maria Emilia Cornejo, Julio Ramón Ribeyro, Flora Tristan, José María Arguedas, Oswaldo Reynoso e poetas como César Vallejo, César Moro, Pablo Guevara, Antonio Cisneros e Blanca Varela.

Todos eles abordando temas contraditórios, envolvendo a elite e o povo, os dominados e dominadores, na tentativa permanente de decifrar a multifacetada identidade peruana.

E surgiram assim personagens excêntricos, exagerados, com os autores extraindo da alma humana seu lado docemente bizarro ou cruelmente cínico. O jornalismo literário também está presente em livros como "Ciudadano Fujimori", de Luis Jochamowitz.

A habilidade dos escritores peruanos em criar cenários altamente originais é encarnada principalmente no escritor Mario Vargas Llosa. Ele é um dos seis latino-americanos que ganharam o Prêmio Nobel de Literatura. Recebeu a honraria em 2010.

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Conhecido muitas vezes por seu lado conservador, como articulista, seu viés de escritor desmente o estereótipo de não priorizar causas populares.

Pelo contrário, em obras como "Tia Júlia e o Escrevinhador" e "Pantaleão e as visitadoras", Vargas Llosa faz uma ferrenha crítica ao abuso de poder e às desigualdades vigentes na sociedade peruana.

Critica tanto o exército quanto os donos do poder econômico e revela a essência, por exemplo, de figuras como o pobre Pedro Camacho, autor de novelas no rádio que fascinam a população, que vive de uma maneira humilde e sob pressão.

Também se antecipa a temas progressistas, como o direito de um homem superar seus conflitos e se relacionar com uma mulher mais velha, sua tia Júlia. Mas também não deixa de colocar todas as responsabilidade, dores e consequências desta escolha.

A literatura peruana foi se desenvolvendo de forma natural, impregnada pela necessidade de os escritores revelarem a alma conturbada de um país que viu a matança de seus índios e sonhou em se tornar uma potência.

O abismo entre o sonho e realidade, portanto, acaba tendo a literatura como uma passagem obrigatória, uma ponte que une esses mundos. Especificamente no Peru.

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